quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Quando Alice se olha no espelho

Fatima Dannemann

As vezes me olho no espelho
e me acho linda
Noutras vezes me olho no espelho
mas não acho nada
apenas olho a imagem no espelho.
As vezes me olho no espelho,
ai eu analiso
e penso que ali está apenas um reflexo
e não sou eu
a me olhar do outro lado do espelho
sem achar nada
apenas contemplando...

Quando Alice se olha no espelho

Fatima Dannemann

As vezes me olho no espelho
e me acho linda
Noutras vezes me olho no espelho
mas não acho nada
apenas olho a imagem no espelho.
As vezes me olho no espelho,
ai eu analiso
e penso que ali está apenas um reflexo
e não sou eu
a me olhar do outro lado do espelho
sem achar nada
apenas contemplando...

Toque

Fatima Dannemann

Uma nota
um tom
um som
sei lá
se o sol
em si ou mi
toca o piano
e faz se
a musica
em qualquer tom
maior ou mais intenso
menor ou plus que lent
allegro ma non troppo
seja uma nota
musical
ou no jornal
uma cadência
um toque
ou um aviso
seja uma musica
ou apenas um ensaio
de peça no palco
de peça no carro
e samba no pé
seja nota
ou seja som
sei lá se o sol
aqui ou la
fa si a face
ali ou em mi

Vida Velha

Fatima Dannemann

Ano novo...
Um novo janeiro
assinalando novas datas.
Mas, a vida permanece
a mesma de outros meses
a mesma de tempos passados...
São sonhos e planos
com prazo de validade vencida
memórias tristes,
ressentimentos...
Ai, se o ano sö tivesse janeirosse a vida sö tivesse a esperança
dos primeiros dias...
Queimam fogos de artificio numa praia alheia
mas e a vida?
Flores de dezembro que murcham
em vasos quebrados,
sonhos vencidos
planos esgotados...
A mesmice da vida a lembrar
que anos e meses
são apenas convenções de data.
E mais nada.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Poema de uma noite de verão - Fatima Dannemann

Poema de uma noite de verão

Fatima Dannemann

Lua...
Brisa quente...
Mar tranquilo
Salta uma cerveja gelada com urgencia
e eu penso na vida
olho para o horizonte e penso:
o que será que existe alem do arco-iris
(e isso já deu música
como o titulo desse poema é
propositadamente inspirado
numa peça antiga).
Lua cheia...
ah, lua cheia...
bom de apenas sentar no gramado
olhar pro céu e contemplar as estrelas.
mas eu quero mais que isso
e ando por ai de carro
o que já é suficientemente perigoso,
e eu não corro o risco de tropeçar
nas calçadas esburacadas
que a prefeitura nunca manda consertar...
(e isso não é nada poético
mas faz de conta que a vida
cometeu operação ilegal,
será fechada
e precisa ser reiniciada logo a seguir)
E eu lembro
que o garçom me (des)atendeu
não trouxe minha cerveja
e aliás eu prefiro uma vodka
- me traz uma roska de qualquer fruta
estamos conversados
e ninguem fala mais nisso...
Lua cheia, lua nova,
nem sei qual a fase da lua.
Noite de esbá, noite de cantar para a deusa
noite de dançar em ritual secreto
e eu ouço Nusrat cantando um cântico sufi
lembro das vitimas das intempéries na Asia
lembro das vitimas de todas as intemperies
e rezo pelas vítimas da eterna seca
que só vêem a cor de uma água:
o marrom da terra sem plantas
e sem comida...
(mas isso já deu filme
e não se fala mais nisso)
Lua,
eu ouço Nusrat
e penso no dia...
Surya, o sol que me traz seus raios todas as manhãs...
Abençoe minha noite
abençoe todas as noites
sagradas e profanas.
(e este é apenas um poema
escrito numa noite de verão)

olhos de luz - fatima dannemann

Olhos de Luz

Fatima Dannemann

Felinos,
tem olhos iluminados
e um porte elegante
de quem se sabe
de familia nobre.
Felinos, tem olhos de luz
farois que iluminam a noite
e transformam a escuridão
em algo corriqueiro e banal
como uma brincadeira de criança.
Gatos, tigres, leopardos,
linces, onças, panteras,
meigos ou feras,
os felinos se sabem grandes
e importantes.
Suas garras deslizam macio
pelos telhados.
Miam para as estrelas reluzindo
o verde dos seus olhos,
faróis que transformam a noite em brincadeira.
Felinamente, olhos que brilham
são olhos de gato,
ou de leão, de leopardo,
os olhos de luz trai a camuflagem
de seus pelos rajados e tigrados.
Felinos, tem olhos de luz,
descargas elétricas que
dão a noite um ar de mistério...

Poema Noturno

Fatima Dannemann


Numa noite qualquer
seguro a caneta
e rabisco palavras
num resto de bloco
de papel

Numa noite qualquer
tramo versos
pensando em cerveja
ouço o silêncio
e imagino rock and roll

Numa noite qualquer
me visto de estrelas
tento sonhar o possível
alcançar o atingível
ser cupido e flechar
o coração de quem queira sonhar comigo

Numa noite qualquer
perambulo pelas ruas
do pensamento
e vou catando estrelas de cristal
para fazer um anel

Numa noite qualquer
Me sento a janela
como uma musa de pintura
e vejo o tempo passar.
Espero o dia nascer

Numa noite qualquer
faço planos pro outro dia
vejo que noites são apenas noites
calmas, tranqüilas, agitadas
Mas apenas noites
como uma noite qualquer


quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

notas soltas - by Fatima Dannemann

Notas Soltas

Fatima Dannemann©

Notas soltas
fragmentos de uma musica
perdida
em tempo e espaço...
Acordes indistintos
numa partitura inacabada...
Um pedaço de canção
sem ritmo,
sem melodia,
apenas notas soltas
sons perdidos entre
o tempo e o espaço
como retalhos de uma vida
dividida
em ontem, hoje, amanhã,
em busca do depois...

sombria - fatima dannemann

SOMBRIA...

Fatima Dannemann


O vulto na esquina
é o de uma mulher sem rosto
e sem nome.
Misteriosa,
como a alma da noite,
esconde a face
sob o véu de negros cabelos.
Apenas mostra
a boca rubra
de batom barato.

Sombria.
A mulher na esquina
tem cheiro de perigo.
Seu rosto alvo
sem contornos,
lembra ameaça.

A esquina,
numa noite de lua negra,
se divide entre amor e perigo.
Esterlas nem brilham
e a luz do poste esmaecida
revela uma mulher misteriosa.

Sombria.
Tal e qual um fantasma
ela revela a morte anunciada.

Quem é você,
vulto noturno?
Porque näo dorme?
O que procura perdida
na virada da rua,
espectral como fantasma?

E a mulher das sombras
ri sem ter dentes.
E seu riso gela a alma.
Ela não tem rosto, nem nome.
É apenas um vulto.
Talvez um fantasma.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Vista de Longe

Fatima Dannemann

Na televisão
não interessa
se não há buraco na rua
No telescópio
alguem repara
as crateras da lua

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Uma reflexão sobre a vida em forma de quase poema

Fatima Dannemann




E a vida é...

Abrir os olhos todas as manhãs

É sentir o vento batendo no rosto

É olhar para o céu e Ter certeza de que não estamos sós
A vida é saber-se centelha divina

A gota que faltava no oceano

É ver um plano adiante

De todos os planos visíveis e invisíveis.



A vida é mais do que uma seqüência de dias

Meses anos

É mais do que uma série de sonhos

É a imensidão

E o imensurável

Vida é eternidade

Materializada e etérea

A trilha da luz

Por mais sombras que houverem no caminho



Por mais que o escuro

Obscureça nossa visão

Há uma saída ali em frente

Outras vidas

Outros caminhos

Rumo ao absoluto

Unidade

Fatima Dannemann©

Somos um.
Contrariando a regra
de que um mais um são dois,
atropelamos a matemática
quando o assunto é amor.
As almas se fundem.
Não se somam
e ao multiplicarem-se
transformam-se em milhões
de beijos, abraços, carícias
e incontavéis gestos
que alongam breves segundos
em momentos eternos.
Somos um.
Porque amar não tem lógica,
sentimentos e emoções
nãp se explicam
com regras racionais.
E um mais um são duas almas
que se tornam únicas,
cinco sentidos que se tornam um só.
Unidade.
E amar é isso.

Vida Velha

Fatima Dannemann

Ano novo...
Um novo janeiro
assinalando novas datas.
Mas, a vida permanece
a mesma de outros meses
a mesma de tempos passados...
São sonhos e planos
com prazo de validade vencida
memórias tristes,
ressentimentos...
Ai, se o ano sö tivesse janeiros
se a vida sö tivesse a esperança
dos primeiros dias...
Queimam fogos de artificio numa praia alheia
mas e a vida?
Flores de dezembro que murcham
em vasos quebrados,
sonhos vencidos
planos esgotados...
A mesmice da vida a lembrar
que anos e meses
são apenas convenções de data.
E mais nada.

domingo, 16 de novembro de 2008

quase uma quadra de advertência



Fatima Dannemann

Não use a poesia
em vão
A vitima pode ser
você
 

Mantra

Fatima Dannemann

Repito seu nome
como quem recita um mantra
cada sílaba me parece um doce poema de amor
cada som é como um beijo
e seu nome, pronunciado
e impregnado de desejo,
é o sagrado da propria poesia.

domingo, 9 de novembro de 2008

Canto de desejo e sonho

Fatima Dannemann

Eu quero cantar
a toda voz
uma música que incendeie
a alma com a mais profunda alegria.
Eu quero fazer
da vida uma festa
e cantar muito
sem parar.
Como se a vida
fosse um karaokê interminável
e que o que importa
é colocar a voz para fora.
E nesse palco chamado vida
eu cantarei
com toda voz
uma música que revele meu lado mais leve.
E além de cantar, eu vou dançar e rir.
Talvez tome coragem e declame uma poesia.
Neste palco da vida, eu serei atriz
vivendo eu mesma
num louco script que transforma a vida em festa.

Canção do Ocaso

      Fatima Dannemann

      Fim de tarde...
      Quase noite e o mundo se torna cinza.
      Restos da chuva se espalham na calçada,
      restos de um dia como qualquer dia
      e alguem volta para casa.

      Fim de tarde,
      o mundo allegro ma non troppo
      espera a luz da lua
      a banhar a rua
      entrecoberta por farois de automóveis
      que começam a se acender.

      Finda a tarde
      e com ela o sol se guarda
      no manto violeta que toma conta do céu.
      Alguem pára para olhar o crepúsculo,
      um único olhar em busca do poente
      num horizonte perdido e encoberto
      por estruturas de concreto.

      Fim. É tarde.
      O sol se põe,
      a estrela vesper brilha.
      O dia termina docemente
      como os ultimos acordes de uma sinfonia.
      O céu violeta espera a lua.
      Restos de chuva na rua.
      Farois se acendem nos carros.
      Alguem volta pra casa.

domingo, 2 de novembro de 2008

quase uma quadra de advertência - Fatima Dannemann

 
Fatima Dannemann

Não use a poesia
em vão
A vitima pode ser
você
 
 
 

pontos cardeais - by Fatima

Fatima Dannemann


O vento sopra do norte
e me traz notícias de alguem.

O vento sopra do leste
e me adverte sobre tempestades.

O vento sopra do sul
e me chega impregnado de saudade.

O vento sopra do oeste
e vem me contando as novidades.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

zen poemeto

Fatima Dannemann

Que seja minimalista
como um jardim zen,
que seja silencioso
como um mosteiro zen,
que seja simples
como um chá zen,
mas que seja intenso

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

mande seu sorriso com urgencia - Fatima Dannemann



Fatima Dannemann

Ponto final nos sofrimentos.
Chega de sansara
que eu quero o nirvana.
Mande seu sorriso com urgencia,
um sorriso satisfeito e apaixonado
como uma boca pós-beijo.

Ponto final na roda da mesmice,
quero luz, um sol bem lindo.
Mande seu sorriso via sedex ou via e-mail.
Não!!! Traga pessoalmente estampado no rosto,
ou apenas desenhe na parede do prédio mais próximo.
E se o guarda perguntar responda:
é um pouco de alegria na cidade tristonha.

Ponto final na tristeza
pois ser feliz não é pecado.
E se der vontade, eu lhe espero na esquina
com flores roubadas na pracinha
enquanto você me chega
com um belo sorriso estampado no rosto.
E ouviremos o som das estrelas,
e chegaremos a luz da alegria.

Ponto final nos sofrimentos,
tudo que chega é bonito
e com a luz de nossos risos
faremos nosso proprio paraiso.


Emoções e camisetas - Fatima Dannemann

Fatima Dannemann

Tem momentos que a emoção trava mesmo...
Eu olho o horizonte alheia a tudo...
não sei se rio, se choro...
não sei o que sentir...
nem se devo sentir alguma coisa.
é que o mundo as vezes me parece assim meio pré-fabricado.
e ai: ditam-se as emoções da moda como
quem ditam cores
de camiseta.

Porém...
Minhas camisetas são básicas e brancas
sem logomarca de nenhuma griffe
e não há ditames, nem ditados...
Donde se concluem que meus sentimentos
ou minhas emoções
não se prendem a ditames nem a modismos...
Há só o que eu sinto.

E o que eu sinto?
Se eu pudesse descrever em cores,
cores que estejam na moda ou não estejam,
meus sentimentos são
Algo azul como o alto mar...
Ou violáceo como o céu do ocaso...
Talvez de um verde vibrante
como um gramado viçoso,
ou vermelho, ou rosa,
ou branco básico como minhas camisetas...
Ah, se emoções são cores,
que eu seja um arco-iris
nesse emaranhado de sentimentos e sentidos...

E seja quais forem os sentimentos que estão na moda
que eu não gaste minhas penas
com quem está no Iraque, ou menininhos perdidos na neve
ou na noite, em Nova York...
Porque quem tem pena desse tipo de pena
voa sempre para longe do cenário do filme.
E aqui, entre eu, entre você, entre nós,
entre eu e o mundo...
Entre eu e tudo o que me cerca
só o que voa são meus pensamentos...

domingo, 19 de outubro de 2008

Doces Memórias



Fatima Dannemann

Saudade
(bem faz o zen, fica aqui e agora
não pensa no passado
despreza o futuro
e não sofre por aguas que se foram)...
Saudade
e eu lembro de um velho desenho animado
e sou criança
me lambuzo de sorvete de flocos
e ando pela praia pensando em castelos de areia
e sou adolescente
ouvindo meus primeiros rock and roll...
Saudade
um filme gasto que não rebubina
fotos que ficam desfocadas
e eu penso: pra que querer ter 16
se depois disso vivi mais tanto
e mais intensamente
que todos os aqui e agora
de todos os monges zen
de todo o mundo
serão apenas lapsos,
fragmentos de tempos...
Saudade...
(ser zen porem nem tanto, claro...
afinal, lembrar pode ser bom,
mas isto é aqui entre nós,
eu e minhas lembranças).
Saudade...
Doces lembranças.
Coisas que ficam porque precisam
porque o que é desnecessário
o esquecimento descarta...
( E eu penso:
pobres zen... será que eles
sabem o que é lembrar
o que foi bom?)

andarilha



Fatima Dannemann
 
Ando pela estrada,
mochila nas costas,
cheia de sonhos.
 
O caminho é longo.
Pedregulhos marcam
a rota a seguir.
 
Procuro um abrigo
na minha viagem.
Pode ser um castelo
ou uma cabana.
 
Tanto faz.
Vou para qualquer lugar.
 
No meu mapa,
não há cidades,
nem países ou fronteiras.
 
No meu mapa
há apenas uma trilha.
Um roteiro
que vou traçando
a cada passo.
 
Longo caminho.
Árduo, muitas vezes.
Mas continuo
carregando minha mochila
recheada de sonhos.
Minha alma é andarilha.
 

domingo, 12 de outubro de 2008

Infinito como espelhos paralelos


Fatima Dannemann

Pedaços de noite
fragmentos de sonho
andanças num palácio de espelhos
entre reflexos
e farois de carros tresloucados
Goles de cerveja
num bar qualquer
Cristais de gelo
quebrando-se num copo
ao som de rock and roll
e um riso de baton
cheio de dentes brancos
como estrelas
transforma a noite em fragmentos
quebra o mar em pedacinhos
e reflete o brilho da lua
em pedaços infinitos
como o reflexo de espelhos paralelos.
Noite
Flashes de um resto de dia
e todo e qualquer poema
parece reprise de um filme já visto e revisto
qualquer suspiro
é como um jeans surrado e velho.
Pedaços de noite.
Movimentos destroçados
num espelho torto
luzes que quebram braços, pernas,
e até narizes
e transforma o mar
em um murmurio distante e misterioso.
Flashes de uma imagem
que se refletem
no infinito de espelhos paralelos.
Pedaços de noite
momentos que se repetem
A lua que se quebra nas luzes dos carros
o rock and roll que encobre
o ronco dos motores.
E a vida é assim:
descomplicada
somente isso...

 
leiam e comentem:
http://www.floresrevistas.blog-se.com.br/
http://naovelas.blig.ig.com.br
http://www.nomesecia.theblog.com.br/

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Flores ingratas



Saudades são flores ingratas
por isso, são roxas, quase fúnebres,
e demoram para murchar
por que muito da saudade nunca acabe.
E como o sentimento,
a saudade-flor é quase impossível de ser definida
não é cravo, nem rosa, nem repolho,
não é comestível, nem tem cheiro,
é flor, é viva, e como o sentimento
                                tem um ar sofrido.

(Fatima Dannemann)

sábado, 27 de setembro de 2008

tudo o que preciso - fatima dannemann


Tudo o que preciso

Fatima Dannemann

Tudo o que preciso
um pouco de vinho
um tanto de coragem
mais uma chama no meu fogo interior...
Tudo o que preciso
para desatar os nós que me prendem
para fazer voar os véus que me cobrem...
Tudo o que preciso
um toque de musicalidade
ou alguns toques com algum ritmo...
Tudo que preciso
uma mão me apoiando
ou várias mãos
e muitos gestos...
apetite de fogo e fome...
fome de sonhos...
tudo o que eu preciso
o abstrato e o concreto
a sintese e o mundo
o universo em mim
aqui

Amor além de todas as estrelas

Fatima Dannemann

Hoje eu resolvi falar de amor...
Não desses amores passageiros
Mas falar de amor...
Não amor de armário.
Sim, de armário.
Armário onde se abre uma gaveta
e apanha-se a camisinha
ou a camisola do dia
para apenas algumas horas de chamego.
Não, quero muito mais que isso.
Resolvi falar de um amor maior que o próprio mundo
grandioso como o próprio universo.
Quero falar de amor daqueles intensos
imensos e eternos;
firme e sólido
como a mais firme e sólida de todas as rochas.
Sim, resolvi falar de amor
desses que a maioria das pessoas não entendem
porque transcendem
todos os limites
extrapolam todas as barreiras
e estão escritos nas estrelas
como um registro kármico
que desafia as eras
e atravessa as vidas.
Sim, hoje resolvi falar de amor.
Amor que quando a flecha de cupido atinge,
o coração se rasga e sangra
verte alegrias,
derrama um sentimento tão intenso
que nenhum poeta descreve
nenhum artista desenha
e até os românticos apenas sonham vagamente.
E eu falo de amor...
Mas, não desse amor fugaz
desses encontros furtivos
que transformam beijos e carinhos
em meras explosões de luxúria
que logo morrem na poeira da memória.
Não, não falo do amor de cama ou mesa,
mas do que transcende a carne
e tornam as almas apenas uma.
Falo do amor sem ego
do sentimento sem posses
da entrega total e completa
de um sentimento tão firme e tão enorme
que ultrapassa limites,
quebra todas as barreiras,
vence até a morte,
extrapola vidas e as eras,
um registro kármico
escrito nas estrelas...

- vagamente desinspirado em Amor Maior do Jota Quest, porque ao mesmo tempo
não tem nada a ver... "Escrito via oral" pois primeiro eu falei os versos. E
só agora escrevi... Donde qualquer dessemelhança jamaos será coincidencia...

Salvador, 18.5.2004
13h de uma tarde de outono azul

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Palavra

Fatima Dannemann
 

Palavra é como beijo
quando agrada
Palavra é como espada
quando destrói
Palavra é como música
quando acaricia
Palavra é como veneno
quando corrói
Palavra é como número
quando exata
Palavra é como bolha
quando esquecida
Palavra é como tatuagem
quando marca
Palavra é como movimento
reflete a vida.

 

Ilha

Fatima Dannemann

 

Cacto,
isolado
no meio do pasto,
quando vai trocar
seus espinhos por flores?

 

Cacto,
Ilhado
a beira da estrada,
Marcando caminho
para algum lugar?

 

Cacto,
isolado
no meio do mato,
seus espinhos
são flores que vão brotar

 

 

Maritimo

Fatima Dannemann
 

 Mar,
 Misterioso e imenso
 Verde, azul, cinza
 conforme o momento...
 

Onde estão seus deuses?
 Banhando-se de espumas?

 
Oceano,
 que bate na pedra
 e cava a caverna
 onde mora a sereia
 que todo marujo
 deseja encontrar...


Mar dos albatrozes...
 Oceano das ruidosas
 gaivotas que fazem
 festa sobre as águas.


 Porque ruge em certas noites,
 zangado como um leão faminto?


Mar,
 eternamente muitos lhe amarão.
 Eternamente a sua imagem
 vou guardar comigo.

 Por menos que consiga
 entender seus mistérios,
 É o rei da terra,
 o guardião da vida no planeta.
O que embelza a paisagem
 e se traduz em aventuras.
 Eternamente.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

verso e reverso do clima que se transforma



Fatima Dannemann

As vezes,
dias de sol nos parecem dias de tempestade.
Enquanto isso:
dias de chuva se transformam em dias iluminados


versos toscos com ares de desabafo

Versos toscos com ares de desabafo

Fatima Dannemann

Perdeu-se em algum lugar
o toque da poesia.
De repente, o poder das palavras
sumiu sem avisar.
Travas,
amarras,
porque são tantas as censuras alheias
que nos bloqueiam a sensibilidade?
Porque não poder quebrar o silencio
gritando: versos, tou dentro!!!
E vejo rostos que desdenham
o que escrevo.
E vejo gente a me dizer:
"pare! eu não gosto de poesia".
E alguem me manda fazer medicina
porque os médicos podem ficar ricos,
ou me candidatar a deputada
e ficar rica com as benesses do congresso...
E vejo faiscantes olhos que me censuram
ao me ver em frente ao monitor.
E eu escrevo escondido.
E eu choro achando que escrever
é pecado...
E eu choro com medo de estar cometendo um crime.
Mas escrevo
Versos toscos com ares de desabafo
e disfarço fingindo ouvir uma velha musica
da idade média
ou fingir que folheio uma revista qualquer
talvez a Caras.
Não!!!
Musas, deuses, duendes, fadas, anjos,
seja lá quem protege as letras,
tome conta de minha alma.
Musas, deuses, duendes, fadas, anjos,
deixe que meu texto corra pelo mundo.
Versos toscos com ares de desabafo
Grito rouco de um poema censurado.
prova de vida num inferno vivo,
Muda conversa como um monólogo,
versos,
versos,
versos que voem, circulem o mundo,
quebrem gelos...
Prova de vida e amor em um meio adverso.
Versos toscos com ares de desabafo

Salvador, 13 de fevereiro de 2004

quebra- cabeça

quebra-cabeça
quebram as cabeças
quebra-sorrisos
quebram lágrimas
pelas faces
quebram-se cabeças
e alguem de olho em todas as peças
 
Fatima Dannemann

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Poetrix para os quatro ventos

Poetrix para os quatro ventos
(ou quase um poema xamânico não iniciado)

Fatima Dannemann

Sul

Despojos, despejos,
lixo reciclado
padrões quebrados

Oeste

O entardecer
é um ato dificil como um parto
ou o ato de morrer

Norte

O ponto de chegada
é o ponto de regresso
em sua jornada

Leste

Além do horizonte,
há outro continente
além da vida outra vida começa

Poema de uma noite de verão - Fatima Dannemann

            

                  Fatima Dannemann

                  Lua...
                  Brisa quente...
                  Mar tranquilo
                  Salta uma cerveja gelada com urgencia
                  e eu penso na vida
                  olho para o horizonte e penso:
                  o que será que existe alem do arco-iris
                  (e isso já deu música
                  como o titulo desse poema é
                  propositadamente inspirado
                  numa peça antiga).
                  Lua cheia...
                  ah, lua cheia...
                  bom de apenas sentar no gramado
                  olhar pro céu e contemplar as estrelas.
                  mas eu quero mais que isso
                  e ando por ai de carro
                  o que já é suficientemente perigoso,
                  e eu não corro o risco de tropeçar
                  nas calçadas esburacadas
                  que a prefeitura nunca manda consertar...
                  (e isso não é nada poético
                  mas faz de conta que a vida
                  cometeu operação ilegal,
                  será fechada
                  e precisa ser reiniciada logo a seguir)
                  E eu lembro
                  que o garçom me (des)atendeu
                  não trouxe minha cerveja
                  e aliás eu prefiro uma vodka
                  - me traz uma roska de qualquer fruta
                  estamos conversados
                  e ninguem fala mais nisso...
                  Lua cheia, lua nova,
                  nem sei qual a fase da lua.
                  Noite de esbá, noite de cantar para a deusa
                  noite de dançar em ritual secreto
                  e eu ouço Nusrat cantando um cântico sufi
                  lembro das vitimas das intempéries na Asia
                  lembro das vitimas de todas as intemperies
                  e rezo pelas vítimas da eterna seca
                  que só vêem a cor de uma água:
                  o marrom da terra sem plantas
                  e sem comida...
                  (mas isso já deu filme
                  e não se fala mais nisso)
                  Lua,
                  eu ouço Nusrat
                  e penso no dia...
                  Surya, o sol que me traz seus raios todas as manhãs...
                  Abençoe minha noite
                  abençoe todas as noites
                  sagradas e profanas.
                  (e este é apenas um poema
                  escrito numa noite de verão)

                

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Cantos Tribais

Fatima Dannemann

 

Tocam tambores

Sob a lua

Mãos que pulsam

Corpos que dançam

Ritmos sagrados

Redonda a lua

Banha o mundo de prata

Corre o rio

Desliza o tempo

E no mar do universo

Roda a Terra

Sol lhe banha de ouro

Luz aquece os corações

 

Além do mar

Há vida além da selva

A vida em outra selva

Concreto e abstrato

Corações pulsam em outros ritmos

Carros correm acelerados

E roncam tambores de combustíveis

Vazios em motores, geradores

Energia multiplicada

E sem que ninguém veja

Corre um rio

Desliza para um mar

Cheio de navios.

E além de todos as visões

Roda a terra

Num universo monitorado por telescópio.

Soam guitarras, pianos,

Balburdia numa festa punk

Ou pós-punk

Pós tudo

Preconizando novos tempos

Que nunca chegarão.

 

Tribos na selva

Tribos em outra selva

Tribos urbanas

Tribos profanas

E apesar de todo concreto e argamassa

Corre sangue ancestral

Azul como um blues

Fatima Dannemann

 

A vida é azul

Como um blues de BB King

E eu vou pela estrada

Num carro sem capota

Olhando a paisagem

Que passa indiferente por mim

Porque árvores e cidades

E montanhas e mares

Não precisam de licença

Para passar pelos olhos de ninguém.

A vida é azul como um céu sem nuvem

E o sangue pulsa como um riff de guitarra

O sangue pulsa por todas as veias

E a vida explode pelos poros

Azul. Azul como um blues.

Azul como um céu sem nuvem

E eu vou pela estrada

Num carro que corta indiferente a paisagem

Porque carros nem sempre precisam

De mares ou montanhas

De rios ou florestas

Para seguir viagem.

E a a vida é azul e no céu sem nuvem

Pássaros roucos de alegria

Cantam um blues do BB King.

E a vida é assim.

Sangue que pulsa sem pedir licença

Por todas as veias

E explode minha presença por todos os poros

E a vida é azul...

Anônimo Amigo

Fatima Dannemann

 

O melhor amigo de todos os poetas

É o leitor . Sim, o leitor...

Este anônimo amigo

Que transcende o tempo,

Extrapola as eras

E mergulha de corpo e alma

Num verdadeiro banho de letras.

Leitor, inseparável companheiro de todos os poetas

O que fica em silêncio meditando nas palavras

Pensando nos sentidos,

Viajando em cada estrofe, verso, figura

Sintonizando-se com a poesia.

A musa muitas vezes desdenha o poema

-         ou o poeta –

Os críticos? Ah, esses...

Eles procuram nós em pingo d'água

E simplesmente saem apontando defeitos formais

Erros fatais...

Como se arte, literatura e poesia

Precisasse ter a precisão exata da ciência.

Estudantes? Ah, esses lêem por obrigação.

As vezes decoram versos para declamar

Nas festinhas da escola.

E, na maioria das vezes, é tudo.

Não, o melhor amigo do poeta

É o leitor.

Leitor comum e anônimo,

Aquele que sente na pele e na alma

Cada sentido e cada som,

Cada sentimento,

Todos os cantos

E todos os lamentos

E que ao ler os versos com  toda sua alma presente

Se faz parceiro do poeta,

Um grande amigo,

Quase uma alma gêmea.

 

(a todos os meus leitores e a todos os meus poetas preferidos)

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Errante

Fatima Dannemann
 
Erra o cometa
sem destino.
Sua casa é o cosmo.
Sua estrada
é a vastidão do universo.
Sua cauda prateada
borbulhante de estrelas
rasga o céu
com elegância
e assusta planetas,
pacatos orgãos celestiais
em órbitas pre-moldadas.
O cometa sabe
fazer uma entrada
no espaço celeste.
É como se o céu
fosse seu palco.
E sua trajetória errante
um espetáculo interminável.
 

Redundâncias consentidas

Fatima Dannemann

Poemas se tornam repetitivos
as vezes.
Uns falam de amor,
outros protestam,
uns derramam mares de lágrimas,
outros trazem risos.
Mas alguem falou a mesma coisa
antes, com outras palavras.
E sem querer, e sem saber,
o poeta escreve o que sente
sem saber que antes dele
alguem escreveu as mesmas coisas
de outro jeito
em outro idioma.
Poemas são redundâncias consentidas
por que demonstram por a mais b
que é preciso amar pra crer
que a vida é bela
ou que é preciso sofrer
para ser um cara bacana.
Poemas...
Não há novidades nos versos,
não há novidades em meus versos,
não há novidade na poesia.
Tudo se repete
como era no principio
e assim será,
eternamente...
Poesia, redundância consentida.
E ainda assim
em muitas formas, bela.

 

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

entrementes - Fatima Dannemann


Entrementes

Fatima Dannemann

Há momentos em que o pensamento voa...
Flutua tão leve e ao mesmo tempo
nos leva a voar com ele para longe...
E vamos voando com o pensamento
para não sei onde...
Vamos vendo as idéias passando,
repassando...
Faces conhecidas se interpõe
em meio a faces apenas sonhadas.
E vamos nós voando nas asas do pensamento
para não sei onde chegar.
Vemos paisagens de sonhos,
castelos de sentimentos,
planície de amores,
montanhas de sofrimentos,
pedras intransponíveis de áreas que não ousamos
nem imaginar.
E o pensamento nos deixa distante,
pés que saem do chão e voam...
Voam para pousar na poesia,
esbarrar na prosa,
chegar a criatividade
e saltar fora das idéias preconcebidas.
E paramos para um sorvete
com sabor de primeiro beijo
quando o pensamento nos leva ao amor...
Rostos, vozes, braços, tudo se mistura,
e ali, doce paraiso, o pensamento não deixa
que o sofrimento nos pegue.
Mas tem horas que um fantasma chamado realidade
nos traz do pensamento para a face da terra,
e encaramos a vida de frente apenas
para esbarrar com monstros...
Ei... Não estamos voando, andamos de metrô,
por um subterrâneo escuro, sem o clima de sonho
de quando o pensamento apenas nos faz flutuar...
E vamos longe, porque o pensamento apenas
mudou de rumo
do mundo ao submundo.
E tem horas que o pensamento nos leva
ainda mais longe do que ousamos pensar.


quinta-feira, 21 de agosto de 2008

saudade em heavy metal

 

 
 
Fatima Dannemann
 
Saudade é ouvir o Led Zeppelin
e deixar que o coração
pulse em Rock and Roll
Porque saudade tem idade, sim,
e é mais nova do que pensam por ai.
Saudade é um riff de guitarra
e as vezes é como um beat heavy-metal
toca fundo o coração
e dança e desliza.
Faz da vida uma Celebração.
É que saudade as vezes é boa.
Como ouvir Dancin Days.
Ir ao fundo. Subir uma escada para o céu.
Eternizar-se. Fazer de momentos que passaram
o momento, o espelho da própria vida.
Saudade é assim: uma música do Led Zeppelin.
Uma volta ao que ficou de bom.
E sem idade...
 
(tributo ao grupo de rock que marcou minha vida e o que eu ainda mais ouço até hoje. O Led Zeppelin, claro. Ah, e o jethro tull e supertramp também).
 
 
http://public.fotki.com/fdann/assinaturas/
assinaturas pra quem quiser - deixe comentario
 

reflexão poética num anoitecer de chuva

Fatima Dannemann

as vezes o mundo é rosa ou não
as vezes lembramos do mundo em cores
ou não
as vezes as imagens se confundem
as vezes rostos parecem rir do mundo
de todo mundo
as vezes a vida é assim
ou não

Eefeito estufa

 

 

Fátima Dannemann

 

Nada de chuva

Nesse inverno

De efeito estufa

Nada de chuva

Nem de frio

O vento apenas balança

Com suavidade

Uns poucos coqueiros

E nada mais

Nem sol

Atrás de poucas nuvens

 

Nada de vento mais forte

Nada de chuva

Nesse inverno

De monótonos junhos e julhos

Sem férias nem escola.

Nada de chuva

Nem de sol

Ou loucas temporadas

De risos festivos

Como no verão.

É apenas um inverno

De monótonos dias

E incontáveis horas

Sem frio

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Ato poético em cenas de lamento e de protesto

 

Fatima Dannemann 

 

(prologo) 

 

Eu sonhei que ser feliz era possivel
amor e poesia festejando a vida
poesia e amor de porta bandeira em minha vida
amor e poesia marcando o compasso da vida
 

Eu sonhei que ser feliz era possivel
E eu sonhei
eu sonhei e apenas sonhei
que a felicidade
era uma possibilidade
concreta
e mais que perfeita
 

 

(verbo na voz reflexiva) 

 

Olho o vazio de um mundo
que superprotege os falsos fracos
Olho o vazio de um mundo
que tira a sorte
dos pseudofortes...
Olho o vazio de um mundo
que se perde em ilusão
e jura buscar a verdade.
 

 

(Um grito ou chamado em compasso de lamento) 

 

Justiça,
tiraram-lhe a venda.
Vitória,
triunfo do bem,
surrupiaram a espada.
Jogaram cinza no verde da esperança
Vulgarizaram o amor com purpurina
Desfocaram a visão dos sonhadores
Deturparam as palavras dos pensadores
 

 

(ato de protesto e chamado) 

 

Parem!
Gritem basta
Parem de esconder a beleza
Dê passagem para outros sonhadores
Chega de derrotas,
gritem basta e vamos esperar o momento
de gritar bem alto
de cantar bem alto
a nossa alegria e a felicidade...
 

 

(para repetir como um mantra e acreditar nos sonhos) 

 

eu sei que a vida é possivel
eu sei que amor e poesia
fazem festa em nossa vida
eu sei
eu sonhei
eu sonho
e qualquer trajetória
que nos leva a plenitude
é a resposta correta
na prova da vida.

 

Noturno opus 18 - by Fatima Dannemann

Noturno opus 18

Fatima Dannemann

Por que sigo catando estrelas
em noite de lua
e em noites sem lua tambem?
Por que persigo sonhos
e ainda danço
sem direito a sonhar?
Por que viajo nas notas
de um Noturno de Chopin
se o mundo é mais apressado
do que acordes dolentes
num piano solitário?
Por que sonho eu?
E por quem sonho enquanto
conto constelações no espaço?

Noites de música suave,
questionamentos imersos em
imagens telúricas...
Um arpejo no plano de fundo,
pianíssimo...
Como meus simples sonhos,
porque catar estrelas
nunca foi complicado...

Parada junto a janela,
olho o céu e procuro estrelas
e me pergunto: Porque?
No mundo, não cabem sonhadores,
a menos que sonhar seja
planejar a realidade...

Mas insisto em voar numa nota musical...
E me vejo passeando entre os astros.
Catando estrelas como se fossem flores
para dar a algum amado...

Não.
Visões de sonhos não cabem num mundo tresloucado.
O noturno encerra com acordes tristes,
e eu fecho a cortina,
e cerro a janela.
Talvez eu durma, e dormindo insista em sonhar.
E talvez me venham novas imagens...

Não,
visões e sonhos talvez não caibam no mundo real,
mas eu teimo...
Se os sonhos continuarem a tornar
minha realidade mais doce,
vou continuar catando estrelas,
e ouvindo arpejos dolentes
em pianos solitários.



Poemeto de Instrução



Fatima Dannemann

Em caso de monotonia,
quebre o ritmo

Modo de ler,
vide verso

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Aluguel

Alugo o Papai Noel
por um dia
não mais que um dia
para que ele me traga
de presente
as lembranças doces
dos brinquedos preferidos
que eu ganhei
nos natais da minha infância

FATIMA DANNEMANN

amarras

Soltem as amarras da paz
Libertem a paz da gaiola do poder
Deixem que a paz voe livre pelo mundo
e se espalhe entre os homens
para que eles exerçam a boa vontade.

Fatima Dannemann

Poema de quase-noite



Fatima Dannemann

Já que anoitece
o melhor é esperar
a novela
pois nem sempre dá
para ver o por do sol.
Já que anoitece,
é hora de tomar uma
cerveja perto do mar.
Sentir uma brisa,
qualquer brisa
e imaginar uma gaivota
lá longe procurando
um lugar para domir.
Já que anoitece,
é hora de pensar um pouco
e ver quantos poemas
foram escritos sobre
a noite
sobre o por do sol
e a quase noite...
E o melhor é sentar
num bar,
tomar o por do sol,
e esperar a hora da novela

carnaval

Fatima Dannemann

Baianos de abada,
ensinam a transformar
o cetim da colombina ou pierrô
numa rede para descanso depois do carnaval.
Não há reis, princesas
Nem piratas, nem jardineiras.
Trocam-se as máscaras por garrafinhas
de água de coco, ou latinha de cerveja.
E vestidos com a fantasia do dia a dia
todos na gandaia, atrás do trio elétrico.

(reescrito)

domingo, 27 de julho de 2008

Sobre a chuva antes do verão e as musicas de minha lembrança - Fatima Dannemann

Sobre a chuva antes do verão e as musicas de minha
lembrança

Fatima Dannemann

Chove
Em pleno novembro
quase verão
e chove
e eu ouço alguem
cantando em francês
uma musica que fala da Lua
e eu ouço uma musica
sobre a lua
em plena luz do dia...
Chove
e eu leio o jornal
procurando noticias
sobre o jogo do Bahia.
Raios de sol cortam
os pingos de chuva
raios de sol iluminam
nuvens
e é quase dezembro
mas não tem sol
na capital do verão
e eu ouço uma musica em frances
que fala sobre a vida
mas não é a c´est la vie
da minha adolescencia
de rock progressivo
e não é a mesma vida
de minha adolescencia
quase punk
é apenas um dia como outro dia
de céu sem sol
num quase dezembro
num quase verão
que chove
e eu sinto o cheiro da terra molhada
entre motores de carros que correm
e choro
e peço a algum deus que me dê noticias
e já não ouço ninguem cantando em frances
os rocks progressivos ficaram pra trás
junto com os eclipses ocultos e revelados
entre blues do djavan e do BB King
e eu estou triste e escrevo uma poesia
e fico alegre e escrevo uma poesia
e fico zen e leio uns versos
Thich nah hahn faz as cabeças
dos alunos da aula de yoga
e eu medito no vazio
no oco da toca de um bebê descerebrado:
filhos que as mães não querem ter...
e ouço Djavan cantando enquanto chove
se acontecer...
se acontecer...
e é preciso fazer nunca esperar
nunca torcer a não ser pelo meu time...
e eu fico triste e escrevo uma poesia
e fico alegre e rabisco certos versos
palavras inteiras, frases, sentimentos transmutados
e me permito ter saudade de tempos remotos
e me permito chorar por chuvas escoadas
por leite derramado...
e pego a mochila de lembranças
e sigo na estrada da vida
numa trilha sonora
de rocks saudosistas...