quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Doces memórias (inédito)

Fatima Dannemann

Saudade
(bem faz o zen, fica aqui e agora
não pensa no passado
despreza o futuro
e não sofre por aguas que se foram)...
Saudade
e eu lembro de um velho desenho animado
e sou criança
me lambuzo de sorvete de flocos
e ando pela praia pensando em castelos de areia
e sou adolescente
ouvindo meus primeiros rock and roll...
Saudade
um filme gasto que não rebubina
fotos que ficam desfocadas
e eu penso: pra que querer ter 16
se depois disso vivi mais tanto
e mais intensamente
que todos os aqui e agora
de todos os monges zen
de todo o mundo
serão apenas lapsos,
fragmentos de tempos...
Saudade...
(ser zen porem nem tanto, claro...
afinal, lembrar pode ser bom,
mas isto é aqui entre nós,
eu e minhas lembranças).
Saudade...
Doces lembranças.
Coisas que ficam porque precisam
porque o que é desnecessário
o esquecimento descarta...
( E eu penso:
pobres zen... será que eles
sabem o que é lembrar
o que foi bom?)

Efemeridades (*)

Fatima Dannemann

Um dia talvez tudo passe
As doenças se curem
as feridas cicatrizem
as tristezas se transformem em alegrias
Um dia talvez tudo acabe
e o que hoje faz sofrer
se transforme em apenas uma lembrança vaga
Um dia, quem sabe, tudo passe
e quem se afastou retorne
com flores e presentes
e o que hoje perturba e tire o sono
vire fumaça.
Um dia, talvez...
Quem sabe...
E dizem que tudo passa.