quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Anjo sem asas

by Fatima Dannemann

Sonhei com um anjo...
Um anjo sem asas,
um anjo sem céu...
Mas era um anjo e flutuava
em meus pensamentos
como se quisesse dominar
a minha mente
e perambulava no coração
como se dominasse a minha alma...
E eu pedia: "voa, anjo".
Resistia.
Mas o anjo teimava e teimava e teimava...
Olhava seu rosto difuso,
seu corpo sem asas
e ele sorria e me olhava,
como se me hipnotizasse...
E eu falava, e ele parecia não ouvir.
Me dominava
mas parecia ser auto-suficiente
como parecem ser todos os anjos...
E me deixei levar pelo anjo,
um anjo sem asas.
Mas os sonhos não duram...
E quando, justamente quando,
cedia a seus encantos...
Acordei...

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Resposta à luz do luar

Fatima Dannemann

Não,
não me tente lua...
Eu falei que nunca mais voltaria a escrever poemas
não há lugar para poemas
em minha louca vida pós-moderna.
Não fique ai dançando alva, redonda e bela,
lançando sua luz de prata sobre mim
e me pedindo para
por apenas um minuto
apagar todas as luzes,
sentar no escuro,
acender velas, incensos,
me sintonizar com a poesia e escrever alguma coisa...

Não,
não me tente, lua...
Jamais acertarei a escrever
de novo sequer um verso como os de antes.
Mudou a vida, mudaram-se os momentos...
Jamais conseguirei inspiração
suficiente, lua,
para achar a vida mágica
como eu achava em outros tempos...

Não
não mais poesia, lua,
não mais magia, senhora de todos os mundos,
não mais versos, deusa de lotus branca...
Mesmo descoberta pelas nuvens da incerteza
que enfim te deixam,
mesmo que seus raios
caiam
leves sobre minha cabeça,
ainda que sua luz me abençoe,
mãe de todas as estrelas,
jamais conseguirei ter uma intenção tão pura
como as de outro tempo,
jamais conseguirei escrever versos como antes.

Plenitude no vazio

Fatima Dannemann

Ouço o silencio
contemplando a vida
vejo a plenitude no vazio.
O mundo é uma enorme teia de buracos negros
e neste éter incompleto
é onde mora a luz
E por frestas na teia
escorrem as idéias
e eu vivo nelas...

Azul como a neve branco-azulada

Fatima Dannemann



Quando a madrugada cai

E o novo amanhecer se avizinha

Eu penso frescuras.

Ouço a musica de Pinóquio

Imaginando: a terra é azul

Porque o céu é azul, o mar é azul

E quando vejo fotos de montanhas

Até a neve parece meio azulada.

E eu visualizo a Fada Azul

Castigando meninhos mentirosos

Deixando seus bonecos de plástico

Continuar sendo bonecos de plástico

Porque certas alquimias...

Ah, as alquimias

Eu sonho transformar meus sonhos em ouro

Ouro como raios de sol de verão

E sonho com o brilho da manhã

E vejo a chuva

Ouvindo o vento soprando entre a persiana.

É apenas madrugada.

Manhã ainda distante

Como o mais aberrante

De todos os sonhos

E a vida é assim: azul como o planeta

E eu vejo a vida azul

Porque é a cor do meu jeans

E ouço um rock enquanto tomo um conhaque.

O vento lá fora me lembra o frio

E é apenas verão.

Mas quem para quem viu neve em Veneza,

Tudo é possível

Até os sonhos mais distantes,

Longínquos como montanhas que subo de carro

Ou teleférico para abrir a boca

Lá do alto enquanto eu digo

A vida é azul,

Azul como a terra

Ou o branco azulado da neve das montanhas...

E eu me dou ao luxo de pensar frescuras

Durante a madrugada.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Solitaria Flor


Fatima Dannemann

Cresce
uma flor solitária,
absolutamente única,
sózinha
num jardim esquálido
e sem vida...
Teima
a solitária flor
em abrir suas pétalas
e espalhar a cor
do mais vivo colorido
no jardim de tons esmaecidos.
Cresce numa cerca
tosca
floresce em uma moita
semi-morta.
Mas vive,
ainda que sozinha
num jardim maltratado
e esquecido.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

EXPOSIÇÃO DE PINTURA


EXPOSIÇÃO DE PINTURA

Fatima Dannemann

Faces
Difusos rostos
Perfis marcados
por sonhos marcantes
Corpos
Imersos em imagens
Banhado em luz
Ouro e prata
Figuras
demarcadas em molduras
Imagens oníricas
prateada em sonhos
Fábulas pictóricas
que atravessam eras
em paredes de museu.
Mitos.

Existência

Fatima Dannemann

Existência...
Gloriosa ou melancólica,
sombria ou alegre,
tensa ou apenas uma sucessão de dias...
Uma explosão de momentos,
uma confusão de sentimentos,
a eterna alternância entre noite e dia
e fases da lua,
a constante mudança do clima,
as estações se sucedendo,
a primavera que expulsa o frio do inverno
e o outono sucedendo ao verão
e desnudando os jardins...
Existência... Existir...
Estar presente sem estar presente,
ausentar-se em meio a multidão,
ficar em si mesmo, pensar...
Não... Existir não é a vida...
A vida é eterna,
é apenas a existencia que cessa,
mas uma existencia se fará
sentir por marcas.
Uma presença muda,
uma voz soando num disco velho de vinil,
ou um velho filme em preto e branco.
Certezas, incertezas, duvidas...
Existencias,
que se ha de viver ou de sentir...

(em memória do Renato Russo)