sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Noite dos amantes

Fatima Dannemann

Noite e o vento como açoite
chicoteia nuvens
e chove...
Noite.
Na caixa
o ultimo som da festa que se acaba
no poste, ultimo lampejo de luz
antes da madrugada...
Noite...
E estrelas piscam docemente
lembrando que
a noite é dos amantes...
E alguem canta
do you believe in love at first sight...
e respondem
que todo amor acontece a primeira vista
ou a primeirva vista
ou a primeira voz
ou num momento qualquer que sempre será o primeiro
o primeiro suspiro
após o primeiro beijo
ou o primeiro gemido
após a primeira noite,
o primeiro sol
após a noite dos amantes...
e alguem canta
e faz juras de amar eternamente na chuva ou no sol
enquanto as estrelas falam sobre a noite...
E o vento que corta como açoite pede aconchego
e a chuva que molha a grama dormente
abençoa os beijos que pipocam entre goles de champanhe...
Morangos com creme derretem numa taça
como beijos na sacada
enquanto uma guitarra ponteia
o ultimo som do baile que termina...
E é noite...
Hora de chegar pra cá e pra lá...
Momento de ficar a sós com mais alguem
e ai...
existirá apenas um segredo...
existirão apenas paredes como testemunhas...
E o vento que corta convida ao aconhego
e a lua lembra que a noite é dos amantes
no poste, os ultimos raios de uma luz fria
antes da madrugada...
And do you believe in love at first sight?
E alguem acredita em amor a primeira vista
ao primeiro toque
ao primeiro beijo
ao primeiro bom dia após a noite
que é dos amantes
com consentimento da lua.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Anjo sem asas

by Fatima Dannemann

Sonhei com um anjo...
Um anjo sem asas,
um anjo sem céu...
Mas era um anjo e flutuava
em meus pensamentos
como se quisesse dominar
a minha mente
e perambulava no coração
como se dominasse a minha alma...
E eu pedia: "voa, anjo".
Resistia.
Mas o anjo teimava e teimava e teimava...
Olhava seu rosto difuso,
seu corpo sem asas
e ele sorria e me olhava,
como se me hipnotizasse...
E eu falava, e ele parecia não ouvir.
Me dominava
mas parecia ser auto-suficiente
como parecem ser todos os anjos...
E me deixei levar pelo anjo,
um anjo sem asas.
Mas os sonhos não duram...
E quando, justamente quando,
cedia a seus encantos...
Acordei...

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Resposta à luz do luar

Fatima Dannemann

Não,
não me tente lua...
Eu falei que nunca mais voltaria a escrever poemas
não há lugar para poemas
em minha louca vida pós-moderna.
Não fique ai dançando alva, redonda e bela,
lançando sua luz de prata sobre mim
e me pedindo para
por apenas um minuto
apagar todas as luzes,
sentar no escuro,
acender velas, incensos,
me sintonizar com a poesia e escrever alguma coisa...

Não,
não me tente, lua...
Jamais acertarei a escrever
de novo sequer um verso como os de antes.
Mudou a vida, mudaram-se os momentos...
Jamais conseguirei inspiração
suficiente, lua,
para achar a vida mágica
como eu achava em outros tempos...

Não
não mais poesia, lua,
não mais magia, senhora de todos os mundos,
não mais versos, deusa de lotus branca...
Mesmo descoberta pelas nuvens da incerteza
que enfim te deixam,
mesmo que seus raios
caiam
leves sobre minha cabeça,
ainda que sua luz me abençoe,
mãe de todas as estrelas,
jamais conseguirei ter uma intenção tão pura
como as de outro tempo,
jamais conseguirei escrever versos como antes.

Plenitude no vazio

Fatima Dannemann

Ouço o silencio
contemplando a vida
vejo a plenitude no vazio.
O mundo é uma enorme teia de buracos negros
e neste éter incompleto
é onde mora a luz
E por frestas na teia
escorrem as idéias
e eu vivo nelas...

Azul como a neve branco-azulada

Fatima Dannemann



Quando a madrugada cai

E o novo amanhecer se avizinha

Eu penso frescuras.

Ouço a musica de Pinóquio

Imaginando: a terra é azul

Porque o céu é azul, o mar é azul

E quando vejo fotos de montanhas

Até a neve parece meio azulada.

E eu visualizo a Fada Azul

Castigando meninhos mentirosos

Deixando seus bonecos de plástico

Continuar sendo bonecos de plástico

Porque certas alquimias...

Ah, as alquimias

Eu sonho transformar meus sonhos em ouro

Ouro como raios de sol de verão

E sonho com o brilho da manhã

E vejo a chuva

Ouvindo o vento soprando entre a persiana.

É apenas madrugada.

Manhã ainda distante

Como o mais aberrante

De todos os sonhos

E a vida é assim: azul como o planeta

E eu vejo a vida azul

Porque é a cor do meu jeans

E ouço um rock enquanto tomo um conhaque.

O vento lá fora me lembra o frio

E é apenas verão.

Mas quem para quem viu neve em Veneza,

Tudo é possível

Até os sonhos mais distantes,

Longínquos como montanhas que subo de carro

Ou teleférico para abrir a boca

Lá do alto enquanto eu digo

A vida é azul,

Azul como a terra

Ou o branco azulado da neve das montanhas...

E eu me dou ao luxo de pensar frescuras

Durante a madrugada.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Solitaria Flor


Fatima Dannemann

Cresce
uma flor solitária,
absolutamente única,
sózinha
num jardim esquálido
e sem vida...
Teima
a solitária flor
em abrir suas pétalas
e espalhar a cor
do mais vivo colorido
no jardim de tons esmaecidos.
Cresce numa cerca
tosca
floresce em uma moita
semi-morta.
Mas vive,
ainda que sozinha
num jardim maltratado
e esquecido.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

EXPOSIÇÃO DE PINTURA


EXPOSIÇÃO DE PINTURA

Fatima Dannemann

Faces
Difusos rostos
Perfis marcados
por sonhos marcantes
Corpos
Imersos em imagens
Banhado em luz
Ouro e prata
Figuras
demarcadas em molduras
Imagens oníricas
prateada em sonhos
Fábulas pictóricas
que atravessam eras
em paredes de museu.
Mitos.

Existência

Fatima Dannemann

Existência...
Gloriosa ou melancólica,
sombria ou alegre,
tensa ou apenas uma sucessão de dias...
Uma explosão de momentos,
uma confusão de sentimentos,
a eterna alternância entre noite e dia
e fases da lua,
a constante mudança do clima,
as estações se sucedendo,
a primavera que expulsa o frio do inverno
e o outono sucedendo ao verão
e desnudando os jardins...
Existência... Existir...
Estar presente sem estar presente,
ausentar-se em meio a multidão,
ficar em si mesmo, pensar...
Não... Existir não é a vida...
A vida é eterna,
é apenas a existencia que cessa,
mas uma existencia se fará
sentir por marcas.
Uma presença muda,
uma voz soando num disco velho de vinil,
ou um velho filme em preto e branco.
Certezas, incertezas, duvidas...
Existencias,
que se ha de viver ou de sentir...

(em memória do Renato Russo)

domingo, 23 de outubro de 2011

Caindo no mundo

Fatima Dannemann©

Não
Não me espere para jantar
Também não me espere
para ver novela,
noticiário, reality show
ou mesmo o corujão da madrugada
na tevê.
Vou sair pelo mundo.
Vou cair na farra.
Talvez volte tarde.
Ou, eu talvez nem volte.
Ou então, volte mais cedo
com a cara lavada,
e a alma partida de desilusão.
Em qualquer caso,
não faça perguntas.
Faça apenas de conta
que nada aconteceu.
Mas...
Não, não me espere para jantar.
Mesmo que nada aconteça,
acho que vou aproveitar
e vou ao cinema.

Doces memórias


Fatima Dannemann



Saudade

(bem faz o zen, fica aqui e agora

não pensa no passado

despreza o futuro

e não sofre por aguas que se foram)...

Saudade

e eu lembro de um velho desenho animado

e sou criança

me lambuzo de sorvete de flocos

e ando pela praia pensando em castelos de areia

e sou adolescente

ouvindo meus primeiros rock and roll...

Saudade

um filme gasto que não rebubina

fotos que ficam desfocadas

e eu penso: pra que querer ter 16

se depois disso vivi mais tanto

e mais intensamente

que todos os aqui e agora

de todos os monges zen

de todo o mundo

serão apenas lapsos,

fragmentos de tempos...

Saudade...

(ser zen porem nem tanto, claro...

afinal, lembrar pode ser bom,

mas isto é aqui entre nós,

eu e minhas lembranças).

Saudade...

Doces lembranças.

Coisas que ficam porque precisam

porque o que é desnecessário

o esquecimento descarta...

( E eu penso:

pobres zen... será que eles

sabem o que é lembrar

o que foi bom?)

sábado, 10 de setembro de 2011

Pontos Cardeais

Fatima Dannemann


O vento sopra do norte
e me traz notícias de alguem.

O vento sopra do leste
e me adverte sobre tempestades.

O vento sopra do sul
e me chega impregnado de saudade.

O vento sopra do oeste
e vem me contando as novidades.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Cidades e pessoas

Fatima Dannemann©

O quanto você conhece uma cidade?
O quanto você conhece uma pessoa?
Ninguém conhece uma cidade
apenas por seus pontos turisticos.
Ninguém conhece ninguém
apenas com roupas de festas.
Despida a maquiagem, a cidade se abre para seus becos.
Quando troca a roupa de festa, a pessoa mostra suas imperfeições.
Uma cidade se conhece por seus becos.
Um ser humano se conhece por seus segredos.
Quando ele e a cidade despem as máscaras.
Quando um lenço de papel retira a maquiagem
e revela a verdadeira face. Os becos.
Becos humanos são furos na alma.
Mas a alma da cidade está nos becos.
Ah, e nas feiras.
E seres humanos por suas roupas diárias.
Ah, e por seu estômago.
Feiras e mesas revelam gostos, e traem os rostos.
Gulosos não escondem defeitos...
No canto da boca, a baba que escorre,
No meio do rosto, olhos que brilham de desejo.
E em meio a festa, seres humanos mostram segredos.
O sangue que corre nas veias esconde-se por traz dos vestidos,
do terno e gravata, do sapato de salto luiz quinze.
E os becos??? Os becos são as veias da cidade.
Veias da alma. Lá está o lado que as roupas de festas
escondem. Provisoriamente.
O quanto você conhece de sua cidade?
O quanto você conhece de seus amigos?
O quanto você conhece de você mesmo?
Quais são seus becos, seus medos, seus defeitos, suas manias???

Saideira

Fatima Dannemann©

A cerveja esquenta nos copos
encerrando a noite.
Fim de festa é assim.
Bocas borradas,
olhos vermelhos.
Bêbados trôpegos tropeçam
na volta pra casa.
Pára a orquestra.
Garçons fecham contas
que serão penduradas.
Saideira.
A sombra da noite
cede espaço a luz da manhã.
Bêbados tontos tentam
olhar para o relógio
sem noção de tempo.
Sombras se arrastam
na volta para casa.
A luz do sol emprenha a noite
quando a festa termina.
Um último cigarro
amassado no cinzeiro sujo.
Sono que chega.
Ressaca.
Vazio.

Sem pressa e sem motivo

Fatima Dannemann

Deu vontade de escrever um poema
Apenas isso:
Um poema sem pressa, e sem motivo,
quaisquer versos que transmitam
meu grito,
meus sentimentos, meus sentidos...
Mas nunca fui poeta e
assumo: ora, eu sempre preferi prosa...
Mas a escrita corrida dá pausa em minha vida
E de repente me vejo fazendo versos
Como se todo mundo que fizesse versos
fosse poeta,
e não proseadoras e contadoras de histórias
ou repórteres de jornal hibernantes,
como eu...
E pintou um clima...
Uma enorme vontade de fazer um poema.
E sai escrevendo, sem eira, nem beira,
sem pressa, sem motivo,
sem rimas ou métrica.
Preferia prosa, uma bela crônica, talvez
sairam versos.
Deu vontade de fazer um poema.
E eu, teimosamente, fiz.

21.4.2002

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Vista de Longe

Fatima Dannemann

Na televisão
não interessa
se não há buraco na rua
No telescópio
alguem repara
as crateras da lua

sábado, 2 de abril de 2011

Guerreiro das palavras

Fatima Dannemann

O poeta, ainda que as vezes triste,
é um guerreiro.
Resiste,
nunca desiste
em transformar seus sentidos
e sentimentos
em beleza.
O poeta faz das dores
lanças de amor e sentimento
e como um anjo ou uma divindade
oferece a eternidade
a sua musa.
O poeta, mesmo triste,
é guardião da beleza,
ainda que em seus versos
apenas denuncie
ou grite contra as maldades do mundo

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Doces memórias (inédito)

Fatima Dannemann

Saudade
(bem faz o zen, fica aqui e agora
não pensa no passado
despreza o futuro
e não sofre por aguas que se foram)...
Saudade
e eu lembro de um velho desenho animado
e sou criança
me lambuzo de sorvete de flocos
e ando pela praia pensando em castelos de areia
e sou adolescente
ouvindo meus primeiros rock and roll...
Saudade
um filme gasto que não rebubina
fotos que ficam desfocadas
e eu penso: pra que querer ter 16
se depois disso vivi mais tanto
e mais intensamente
que todos os aqui e agora
de todos os monges zen
de todo o mundo
serão apenas lapsos,
fragmentos de tempos...
Saudade...
(ser zen porem nem tanto, claro...
afinal, lembrar pode ser bom,
mas isto é aqui entre nós,
eu e minhas lembranças).
Saudade...
Doces lembranças.
Coisas que ficam porque precisam
porque o que é desnecessário
o esquecimento descarta...
( E eu penso:
pobres zen... será que eles
sabem o que é lembrar
o que foi bom?)

Efemeridades (*)

Fatima Dannemann

Um dia talvez tudo passe
As doenças se curem
as feridas cicatrizem
as tristezas se transformem em alegrias
Um dia talvez tudo acabe
e o que hoje faz sofrer
se transforme em apenas uma lembrança vaga
Um dia, quem sabe, tudo passe
e quem se afastou retorne
com flores e presentes
e o que hoje perturba e tire o sono
vire fumaça.
Um dia, talvez...
Quem sabe...
E dizem que tudo passa.