sábado, 27 de setembro de 2008
tudo o que preciso - fatima dannemann
Tudo o que preciso
Fatima Dannemann
Tudo o que preciso
um pouco de vinho
um tanto de coragem
mais uma chama no meu fogo interior...
Tudo o que preciso
para desatar os nós que me prendem
para fazer voar os véus que me cobrem...
Tudo o que preciso
um toque de musicalidade
ou alguns toques com algum ritmo...
Tudo que preciso
uma mão me apoiando
ou várias mãos
e muitos gestos...
apetite de fogo e fome...
fome de sonhos...
tudo o que eu preciso
o abstrato e o concreto
a sintese e o mundo
o universo em mim
aqui
Amor além de todas as estrelas
Hoje eu resolvi falar de amor...
Não desses amores passageiros
Mas falar de amor...
Não amor de armário.
Sim, de armário.
Armário onde se abre uma gaveta
e apanha-se a camisinha
ou a camisola do dia
para apenas algumas horas de chamego.
Não, quero muito mais que isso.
Resolvi falar de um amor maior que o próprio mundo
grandioso como o próprio universo.
Quero falar de amor daqueles intensos
imensos e eternos;
firme e sólido
como a mais firme e sólida de todas as rochas.
Sim, resolvi falar de amor
desses que a maioria das pessoas não entendem
porque transcendem
todos os limites
extrapolam todas as barreiras
e estão escritos nas estrelas
como um registro kármico
que desafia as eras
e atravessa as vidas.
Sim, hoje resolvi falar de amor.
Amor que quando a flecha de cupido atinge,
o coração se rasga e sangra
verte alegrias,
derrama um sentimento tão intenso
que nenhum poeta descreve
nenhum artista desenha
e até os românticos apenas sonham vagamente.
E eu falo de amor...
Mas, não desse amor fugaz
desses encontros furtivos
que transformam beijos e carinhos
em meras explosões de luxúria
que logo morrem na poeira da memória.
Não, não falo do amor de cama ou mesa,
mas do que transcende a carne
e tornam as almas apenas uma.
Falo do amor sem ego
do sentimento sem posses
da entrega total e completa
de um sentimento tão firme e tão enorme
que ultrapassa limites,
quebra todas as barreiras,
vence até a morte,
extrapola vidas e as eras,
um registro kármico
escrito nas estrelas...
- vagamente desinspirado em Amor Maior do Jota Quest, porque ao mesmo tempo
não tem nada a ver... "Escrito via oral" pois primeiro eu falei os versos. E
só agora escrevi... Donde qualquer dessemelhança jamaos será coincidencia...
Salvador, 18.5.2004
13h de uma tarde de outono azul
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Palavra
Palavra é como beijo
quando agrada
Palavra é como espada
quando destrói
Palavra é como música
quando acaricia
Palavra é como veneno
quando corrói
Palavra é como número
quando exata
Palavra é como bolha
quando esquecida
Palavra é como tatuagem
quando marca
Palavra é como movimento
reflete a vida.
Ilha
Cacto,
isolado
no meio do pasto,
quando vai trocar
seus espinhos por flores?
Cacto,
Ilhado
a beira da estrada,
Marcando caminho
para algum lugar?
Cacto,
isolado
no meio do mato,
seus espinhos
são flores que vão brotar
Maritimo
Mar,
Misterioso e imenso
Verde, azul, cinza
conforme o momento...
Onde estão seus deuses?
Banhando-se de espumas?
Oceano,
que bate na pedra
e cava a caverna
onde mora a sereia
que todo marujo
deseja encontrar...
Mar dos albatrozes...
Oceano das ruidosas
gaivotas que fazem
festa sobre as águas.
Porque ruge em certas noites,
zangado como um leão faminto?
Mar,
eternamente muitos lhe amarão.
Eternamente a sua imagem
vou guardar comigo.
Por menos que consiga
entender seus mistérios,
É o rei da terra,
o guardião da vida no planeta.
O que embelza a paisagem
e se traduz em aventuras.
Eternamente.
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
verso e reverso do clima que se transforma
Fatima Dannemann
As vezes,
dias de sol nos parecem dias de tempestade.
Enquanto isso:
dias de chuva se transformam em dias iluminados
versos toscos com ares de desabafo
Fatima Dannemann
Perdeu-se em algum lugar
o toque da poesia.
De repente, o poder das palavras
sumiu sem avisar.
Travas,
amarras,
porque são tantas as censuras alheias
que nos bloqueiam a sensibilidade?
Porque não poder quebrar o silencio
gritando: versos, tou dentro!!!
E vejo rostos que desdenham
o que escrevo.
E vejo gente a me dizer:
"pare! eu não gosto de poesia".
E alguem me manda fazer medicina
porque os médicos podem ficar ricos,
ou me candidatar a deputada
e ficar rica com as benesses do congresso...
E vejo faiscantes olhos que me censuram
ao me ver em frente ao monitor.
E eu escrevo escondido.
E eu choro achando que escrever
é pecado...
E eu choro com medo de estar cometendo um crime.
Mas escrevo
Versos toscos com ares de desabafo
e disfarço fingindo ouvir uma velha musica
da idade média
ou fingir que folheio uma revista qualquer
talvez a Caras.
Não!!!
Musas, deuses, duendes, fadas, anjos,
seja lá quem protege as letras,
tome conta de minha alma.
Musas, deuses, duendes, fadas, anjos,
deixe que meu texto corra pelo mundo.
Versos toscos com ares de desabafo
Grito rouco de um poema censurado.
prova de vida num inferno vivo,
Muda conversa como um monólogo,
versos,
versos,
versos que voem, circulem o mundo,
quebrem gelos...
Prova de vida e amor em um meio adverso.
Versos toscos com ares de desabafo
Salvador, 13 de fevereiro de 2004
quebra- cabeça
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Poetrix para os quatro ventos
(ou quase um poema xamânico não iniciado)
Fatima Dannemann
Sul
Despojos, despejos,
lixo reciclado
padrões quebrados
Oeste
O entardecer
é um ato dificil como um parto
ou o ato de morrer
Norte
O ponto de chegada
é o ponto de regresso
em sua jornada
Leste
Além do horizonte,
há outro continente
além da vida outra vida começa
Poema de uma noite de verão - Fatima Dannemann
Fatima Dannemann
Lua...
Brisa quente...
Mar tranquilo
Salta uma cerveja gelada com urgencia
e eu penso na vida
olho para o horizonte e penso:
o que será que existe alem do arco-iris
(e isso já deu música
como o titulo desse poema é
propositadamente inspirado
numa peça antiga).
Lua cheia...
ah, lua cheia...
bom de apenas sentar no gramado
olhar pro céu e contemplar as estrelas.
mas eu quero mais que isso
e ando por ai de carro
o que já é suficientemente perigoso,
e eu não corro o risco de tropeçar
nas calçadas esburacadas
que a prefeitura nunca manda consertar...
(e isso não é nada poético
mas faz de conta que a vida
cometeu operação ilegal,
será fechada
e precisa ser reiniciada logo a seguir)
E eu lembro
que o garçom me (des)atendeu
não trouxe minha cerveja
e aliás eu prefiro uma vodka
- me traz uma roska de qualquer fruta
estamos conversados
e ninguem fala mais nisso...
Lua cheia, lua nova,
nem sei qual a fase da lua.
Noite de esbá, noite de cantar para a deusa
noite de dançar em ritual secreto
e eu ouço Nusrat cantando um cântico sufi
lembro das vitimas das intempéries na Asia
lembro das vitimas de todas as intemperies
e rezo pelas vítimas da eterna seca
que só vêem a cor de uma água:
o marrom da terra sem plantas
e sem comida...
(mas isso já deu filme
e não se fala mais nisso)
Lua,
eu ouço Nusrat
e penso no dia...
Surya, o sol que me traz seus raios todas as manhãs...
Abençoe minha noite
abençoe todas as noites
sagradas e profanas.
(e este é apenas um poema
escrito numa noite de verão)
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Cantos Tribais
Fatima Dannemann
Tocam tambores
Sob a lua
Mãos que pulsam
Corpos que dançam
Ritmos sagrados
Redonda a lua
Banha o mundo de prata
Corre o rio
Desliza o tempo
E no mar do universo
Roda a Terra
Sol lhe banha de ouro
Luz aquece os corações
Além do mar
Há vida além da selva
A vida em outra selva
Concreto e abstrato
Corações pulsam em outros ritmos
Carros correm acelerados
E roncam tambores de combustíveis
Vazios em motores, geradores
Energia multiplicada
E sem que ninguém veja
Corre um rio
Desliza para um mar
Cheio de navios.
E além de todos as visões
Roda a terra
Num universo monitorado por telescópio.
Soam guitarras, pianos,
Balburdia numa festa punk
Ou pós-punk
Pós tudo
Preconizando novos tempos
Que nunca chegarão.
Tribos na selva
Tribos em outra selva
Tribos urbanas
Tribos profanas
E apesar de todo concreto e argamassa
Corre sangue ancestral
Azul como um blues
Fatima Dannemann
A vida é azul
Como um blues de BB King
E eu vou pela estrada
Num carro sem capota
Olhando a paisagem
Que passa indiferente por mim
Porque árvores e cidades
E montanhas e mares
Não precisam de licença
Para passar pelos olhos de ninguém.
A vida é azul como um céu sem nuvem
E o sangue pulsa como um riff de guitarra
O sangue pulsa por todas as veias
E a vida explode pelos poros
Azul. Azul como um blues.
Azul como um céu sem nuvem
E eu vou pela estrada
Num carro que corta indiferente a paisagem
Porque carros nem sempre precisam
De mares ou montanhas
De rios ou florestas
Para seguir viagem.
E a a vida é azul e no céu sem nuvem
Pássaros roucos de alegria
Cantam um blues do BB King.
E a vida é assim.
Sangue que pulsa sem pedir licença
Por todas as veias
E explode minha presença por todos os poros
E a vida é azul...
Anônimo Amigo
Fatima Dannemann
O melhor amigo de todos os poetas
É o leitor . Sim, o leitor...
Este anônimo amigo
Que transcende o tempo,
Extrapola as eras
E mergulha de corpo e alma
Num verdadeiro banho de letras.
Leitor, inseparável companheiro de todos os poetas
O que fica em silêncio meditando nas palavras
Pensando nos sentidos,
Viajando em cada estrofe, verso, figura
Sintonizando-se com a poesia.
A musa muitas vezes desdenha o poema
- ou o poeta
Os críticos? Ah, esses...
Eles procuram nós em pingo d'água
E simplesmente saem apontando defeitos formais
Erros fatais...
Como se arte, literatura e poesia
Precisasse ter a precisão exata da ciência.
Estudantes? Ah, esses lêem por obrigação.
As vezes decoram versos para declamar
Nas festinhas da escola.
E, na maioria das vezes, é tudo.
Não, o melhor amigo do poeta
É o leitor.
Leitor comum e anônimo,
Aquele que sente na pele e na alma
Cada sentido e cada som,
Cada sentimento,
Todos os cantos
E todos os lamentos
E que ao ler os versos com toda sua alma presente
Se faz parceiro do poeta,
Um grande amigo,
Quase uma alma gêmea.
(a todos os meus leitores e a todos os meus poetas preferidos)