quarta-feira, 23 de abril de 2008

Absoluta e Plena

Fatima Dannemann

Mãe
teu nome é mulher
branca ou negra,
mulher absoluta e plena.
Mãe
que gera uma vida
e alimenta muitas vidas
e inspira muitas almas
mundo afora.
Mãe,
teu nome é mulher,
profana ou deusa,
nunca escrava e sempre senhora,
dona do mundo.
Mãe,
teu nome é mulher
rainha ou plebéia,
absoluta e plena,
cheia de graça
e nobreza,
Mãe,
teu nome é mulher,
as vezes pantera,
as vezes leoa,
a sempre protetora,
eterna menina.
Mãe,
eternamente senhora
absoluta e plena,
cheia de graça
teu nome é amor...

Anjo sem asas

by Fatima Dannemann

Sonhei com um anjo...
Um anjo sem asas,
um anjo sem céu...
Mas era um anjo e flutuava
em meus pensamentos
como se quisesse dominar
a minha mente
e perambulava no coração
como se dominasse a minha alma...
E eu pedia: "voa, anjo".
Resistia.
Mas o anjo teimava e teimava e teimava...
Olhava seu rosto difuso,
seu corpo sem asas
e ele sorria e me olhava,
como se me hipnotizasse...
E eu falava, e ele parecia não ouvir.
Me dominava
mas parecia ser auto-suficiente
como parecem ser todos os anjos...
E me deixei levar pelo anjo,
um anjo sem asas.
Mas os sonhos não duram...
E quando, justamente quando,
cedia a seus encantos...
Acordei...

A dor nas palavras

Fatima Dannemann

Se o poema é triste
é porque o poeta sofre.
Escrever versos,
quando o sofrimento
aperta o coração
e a dor faz sangrar a alma,
é uma forma de chorar.
O poeta apenas deixa
a poesia fluir
e os versos escorrem
no papel (ou na tela do computador)
como se fossem lágrimas.
Os versos de um poeta trista
é como se fosse um choro
daqueles que embaçam os olhos
e travam a garganta.
O poeta chora nos versos,
e nas palavras solta seus medos,
suas dores
e desamores.
Se o poema é triste
é porque o poeta,
longe de ser mito,
é apenas um ser humano.
E sofre.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Sobre a chuva antes do verão e as musicas de minha lembrança



Fatima Dannemann

Chove
Em pleno novembro
quase verão
e chove
e eu ouço alguem
cantando em francês
uma musica que fala da Lua
e eu ouço uma musica
sobre a lua
em plena luz do dia...
Chove
e eu leio o jornal
procurando noticias
sobre o jogo do Bahia.
Raios de sol cortam
os pingos de chuva
raios de sol iluminam
nuvens
e é quase dezembro
mas não tem sol
na capital do verão
e eu ouço uma musica em frances
que fala sobre a vida
mas não é a c´est la vie
da minha adolescencia
de rock progressivo
e não é a mesma vida
de minha adolescencia
quase punk
é apenas um dia como outro dia
de céu sem sol
num quase dezembro
num quase verão
que chove
e eu sinto o cheiro da terra molhada
entre motores de carros que correm
e choro
e peço a algum deus que me dê noticias
e já não ouço ninguem cantando em frances
os rocks progressivos ficaram pra trás
junto com os eclipses ocultos e revelados
entre blues do djavan e do BB King
e eu estou triste e escrevo uma poesia
e fico alegre e escrevo uma poesia
e fico zen e leio uns versos
Thich nah hahn faz as cabeças
dos alunos da aula de yoga
e eu medito no vazio
no oco da toca de um bebê descerebrado:
filhos que as mães não querem ter...
e ouço Djavan cantando enquanto chove
se acontecer...
se acontecer...
e é preciso fazer nunca esperar
nunca torcer a não ser pelo meu time...
e eu fico triste e escrevo uma poesia
e fico alegre e rabisco certos versos
palavras inteiras, frases, sentimentos transmutados
e me permito ter saudade de tempos remotos
e me permito chorar por chuvas escoadas
por leite derramado...
e pego a mochila de lembranças
e sigo na estrada da vida
numa trilha sonora
de rocks saudosistas...

Novembro - 2004

Traiçoeira




Fatima Dannemann

A rosa é traiçoeira
Bela, sim
Perfumada, tambem
Farta em pétalas, coloridas
mas traiçoeira.
A rosa guarda os espinhos
sob as vestes de cores vistosas
e fere a carne de quem lhe toca
e fere a alma de quem lhe admira.
A rosa é assim
uma face no vaso distante,
e sempre em grandes quantidades
pois uma única rosa não basta
para embelezar o jardim.
Ao contrário do girassol
a rosa é blasé
e não sabe se é dia ou noite
do alto de sua pose
faz pouco caso da vida
e fere com seus espinhos.
Ao contrario dos cactos que se mostram
ela esconde.
E esnoba outras flores.
Desejada, talvez.
Mas ao pressentir perigo,
todos correm.
E vem o castigo:
a rosa morre seca, sozinha
e é jogada no lixo.

sábado, 12 de abril de 2008

Canto para as águas mansas



Canto para as águas mansas

Fatima Dannemann©

Dorme o lago cercado por montanhas
Sombras que ameaçam
Brisa que murmura

Que mistérios existem em suas entranhas?

As brumas que lhe encobrem
são véus
de nuvem com ares de céu

Que monstros e mitos se encobrem sob tuas ondas?

Uma nesga de sol
rasga suas águas...
Molha de luz a superfície gelada
e é como espada
a rasgar a carne inerte

Que luas te banham de prata?

Gaivotas gritam
Cisnes deslizam no silêncio
Um barco apita

Será que dentro do lago existe vida?

O vento beija a água
uma onda se arrepia
e quebra na margem
borbulha...
Um canto de água que chega ao céu
e explode na terra

E as águas do lago correm mansas
a elas pouco importam tempo e espaço
ontem, hoje ou amanhã
A elas só importa o vento...
seu vai e vem
e vai e vem...