sexta-feira, 31 de julho de 2009

andarilha

Andarilha

Fatima Dannemann

Ando pela estrada,
mochila nas costas,
cheia de sonhos.

O caminho é longo.
Pedregulhos marcam
a rota a seguir.

Procuro um abrigo
na minha viagem.
Pode ser um castelo
ou uma cabana.

Tanto faz.
Vou para qualquer lugar.

No meu mapa,
não há cidades,
nem países ou fronteiras.

No meu mapa
há apenas uma trilha.
Um roteiro
que vou traçando
a cada passo.

Longo caminho.
Árduo, muitas vezes.
Mas continuo
carregando minha mochila
recheada de sonhos.
Minha alma é andarilha.

Pares trocados em desencontros conformados

Fatima Dannemann

Dançam corações e corpos
na pista de dança
como se rezassem
para curar feridas.
Deslizam pela pista
em pares descompassados.
Olhos que buscam outros olhos,
corações que choram
e expulsam
uma ilusão perdida.
Dançam pares trocados,
olhares ímpares e
corações quebrados,
olhares que se cruzam tristes
num baile louco
das desilusões da vida.
E a música prega peças,
como se cupido lançasse setas tortas
e a vida se transforma numa festa doida
onde o amor é uma babel confusa
e não há lugar para sonhos...
Pares dançam em desencontros conformados,
a musica geme como um suspiro triste
amores que chegam e vão embora
numa dança fugaz
e apenas isso.

Salvador - 3.5.2004

resposta à luz do luar

Fatima Dannemann

Não,
não me tente lua...
Eu falei que nunca mais voltaria a escrever poemas
não há lugar para poemas
em minha louca vida pós-moderna.
Não fique ai dançando alva, redonda e bela,
lançando sua luz de prata sobre mim
e me pedindo para
por apenas um minuto
apagar todas as luzes,
sentar no escuro,
acender velas, incensos,
me sintonizar com a poesia e escrever alguma coisa...

Não,
não me tente, lua...
Jamais acertarei a escrever
de novo sequer um verso como os de antes.
Mudou a vida, mudaram-se os momentos...
Jamais conseguirei inspiração
suficiente, lua,
para achar a vida mágica
como eu achava em outros tempos...

Não
não mais poesia, lua,
não mais magia, senhora de todos os mundos,
não mais versos, deusa de lotus branca...
Mesmo descoberta pelas nuvens da incerteza
que enfim te deixam,
mesmo que seus raios
caiam
leves sobre minha cabeça,
ainda que sua luz me abençoe,
mãe de todas as estrelas,
jamais conseguirei ter uma intenção tão pura
como as de outro tempo,
jamais conseguirei escrever versos como antes.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Canto sobre um sentimento especial

Fatima Dannemann

Poetas do mundo
que cantam o amor e traduzem as formas belas
ou suas próprias sensações.
Poetas do mundo
troquem as musas e as motivações
e por um dia, falem sobre o amigo...

Ah, eu sei...
A poesia do amigo esbarra no lugar comum
e todos os poetas se perguntam:
Como falar de amizade
sem repetir frases feitas?
Como falar de amizade
sem parecer redundante?

Não se importem em parecer tolos,
quem ama sempre parece meio bobo
e quem tem um amigo, ama.
E ama de forma intensa.
E ama de forma mais apaixonada que se amasse qualquer musa,
pois um amigo verdadeiro sempre leva a amizade as ultimas consequencias.

Cantem, poetas,
sobre a amizade,
Cantem sobre o que significa dizer a um amigo "eu te amo"
e poder amar de forma livre,
sem egos, sem egoismos...

Cantemos todos, poetas ou leitores,
até os que desdenham a poesia,
cantemos em verso ou prosa.
Ou nem precisamos cantar nada,
a amizade é um sentimento profundo demais.
Sejamos amigos, então...
E vamos viver juntos um sentimento intraduzivel,
compartilhando todos os momentos,
talvez assim conseguiremos entender a amizade
em muito mais do as que palavras já ditas
por outros poetas
em outros tempos
e outras esferas...

sábado, 11 de julho de 2009

Parceiro de madrugada

Parceiro de madrugada


Parceiro de madrugada
que se esconde além das montanhas
quanta estrada será preciso rodar
até chegar a tua casa?
Parceiro de noites a fio
Companheiro do copo da poesia,
como posso medir uma sintonia
em braçadas de flores?
em canudos coloridos de refrigerante?
Em bandas de rock
ou letras de alfabeto chinês?
Parceiro de todas as fases da lua,
o que sabe a distância das estrelas
e confere no mapa da vida
o destino dos cantos
e os quatro cantos de um mundo redondo...
Parceiro de papos sobre times vencedores,
parceiros de piadas, de longas conversas.
Companheiro de poesia,..
Peixe fluindo no rio da madrugada
Insone madrugueiro
movido a musica e a beleza,
salve suas estrelas guias e mentoras...
Quantas montanhas terei que escalar
até bater a tua porta?

Tântrico




Fatima Dannemann

Um dia eu escrevo um poema erótico.
Até para mostrar o que eu acho
que seja um poema erótico.
Um poema sagrado, claro,
porque as palavras são sagradas
e o amor também.
Mas um poema cheio de erotismo.
Daqueles poemas orgasmáticos
que explodem em luxuria,
cheios de tesão sem compaixão.
Um poema molhado e melado...
Lambuzado de areia
e perfumado pela noite.
Um poema a luz de velas
com perfume de absinto,
velas alvas sim porque
o amor-erótico pode ser puro...
Uma hora dessas ainda escrevo
um poema erótico
daqueles cheio de paixão
parecendo aquelas cenas de cinema
que todo mundo gosta
com a Julia Roberts ou a Demi Moore
no papel de mocinha
engolindo o George Clooney ou o Johnny Depp
em beijos explícitos
que se multiplicam por todos os poros...
Um dia ainda desafio as convenções
e mostro o que acho que seja erotismo...
Mas, não restará pedra sobre pedra...
Digamos que abrirei uma porta dourada
de luz tão intensa que poucos chegarão nela
porque - claro - será erotismo tântrico
tipo aqueles que o kama sutra descreve
que todos desejam, ah...
(mas será que alguem encara mesmo?)
E o Kama Sutra, sim, porque
sexismos a parte, o amor é sagrado...
tão sagrado que prometo
que apenas vou cochichar esses versos
para alguem...
um sussurro escuro entre luz de velas...
ou apenas gestuado...
palavras transformadas em atos
porque não há erotismo que seja exatamente
traduzido em palavras...
Não há luxuria que, revelado o segredo,
não se torne pecado,
porque, aos olhos dos mal amados
se corroem de inveja
os olhos dos não amados vêem tudo turvo
e na cabeça dos invejosos, todo amor é sujo...
Ah, mas eu vou fazer um poema erótico.
Vou sim...
Com palavras tatuadas no corpo do amado
e só para ele.
Mesmo porque amor,
até mesmo o amor-erótico,
é só isso, dois mais dois
e nunca tres...