sábado, 11 de julho de 2009

Tântrico




Fatima Dannemann

Um dia eu escrevo um poema erótico.
Até para mostrar o que eu acho
que seja um poema erótico.
Um poema sagrado, claro,
porque as palavras são sagradas
e o amor também.
Mas um poema cheio de erotismo.
Daqueles poemas orgasmáticos
que explodem em luxuria,
cheios de tesão sem compaixão.
Um poema molhado e melado...
Lambuzado de areia
e perfumado pela noite.
Um poema a luz de velas
com perfume de absinto,
velas alvas sim porque
o amor-erótico pode ser puro...
Uma hora dessas ainda escrevo
um poema erótico
daqueles cheio de paixão
parecendo aquelas cenas de cinema
que todo mundo gosta
com a Julia Roberts ou a Demi Moore
no papel de mocinha
engolindo o George Clooney ou o Johnny Depp
em beijos explícitos
que se multiplicam por todos os poros...
Um dia ainda desafio as convenções
e mostro o que acho que seja erotismo...
Mas, não restará pedra sobre pedra...
Digamos que abrirei uma porta dourada
de luz tão intensa que poucos chegarão nela
porque - claro - será erotismo tântrico
tipo aqueles que o kama sutra descreve
que todos desejam, ah...
(mas será que alguem encara mesmo?)
E o Kama Sutra, sim, porque
sexismos a parte, o amor é sagrado...
tão sagrado que prometo
que apenas vou cochichar esses versos
para alguem...
um sussurro escuro entre luz de velas...
ou apenas gestuado...
palavras transformadas em atos
porque não há erotismo que seja exatamente
traduzido em palavras...
Não há luxuria que, revelado o segredo,
não se torne pecado,
porque, aos olhos dos mal amados
se corroem de inveja
os olhos dos não amados vêem tudo turvo
e na cabeça dos invejosos, todo amor é sujo...
Ah, mas eu vou fazer um poema erótico.
Vou sim...
Com palavras tatuadas no corpo do amado
e só para ele.
Mesmo porque amor,
até mesmo o amor-erótico,
é só isso, dois mais dois
e nunca tres...

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