quinta-feira, 14 de julho de 2011

Cidades e pessoas

Fatima Dannemann©

O quanto você conhece uma cidade?
O quanto você conhece uma pessoa?
Ninguém conhece uma cidade
apenas por seus pontos turisticos.
Ninguém conhece ninguém
apenas com roupas de festas.
Despida a maquiagem, a cidade se abre para seus becos.
Quando troca a roupa de festa, a pessoa mostra suas imperfeições.
Uma cidade se conhece por seus becos.
Um ser humano se conhece por seus segredos.
Quando ele e a cidade despem as máscaras.
Quando um lenço de papel retira a maquiagem
e revela a verdadeira face. Os becos.
Becos humanos são furos na alma.
Mas a alma da cidade está nos becos.
Ah, e nas feiras.
E seres humanos por suas roupas diárias.
Ah, e por seu estômago.
Feiras e mesas revelam gostos, e traem os rostos.
Gulosos não escondem defeitos...
No canto da boca, a baba que escorre,
No meio do rosto, olhos que brilham de desejo.
E em meio a festa, seres humanos mostram segredos.
O sangue que corre nas veias esconde-se por traz dos vestidos,
do terno e gravata, do sapato de salto luiz quinze.
E os becos??? Os becos são as veias da cidade.
Veias da alma. Lá está o lado que as roupas de festas
escondem. Provisoriamente.
O quanto você conhece de sua cidade?
O quanto você conhece de seus amigos?
O quanto você conhece de você mesmo?
Quais são seus becos, seus medos, seus defeitos, suas manias???

Saideira

Fatima Dannemann©

A cerveja esquenta nos copos
encerrando a noite.
Fim de festa é assim.
Bocas borradas,
olhos vermelhos.
Bêbados trôpegos tropeçam
na volta pra casa.
Pára a orquestra.
Garçons fecham contas
que serão penduradas.
Saideira.
A sombra da noite
cede espaço a luz da manhã.
Bêbados tontos tentam
olhar para o relógio
sem noção de tempo.
Sombras se arrastam
na volta para casa.
A luz do sol emprenha a noite
quando a festa termina.
Um último cigarro
amassado no cinzeiro sujo.
Sono que chega.
Ressaca.
Vazio.

Sem pressa e sem motivo

Fatima Dannemann

Deu vontade de escrever um poema
Apenas isso:
Um poema sem pressa, e sem motivo,
quaisquer versos que transmitam
meu grito,
meus sentimentos, meus sentidos...
Mas nunca fui poeta e
assumo: ora, eu sempre preferi prosa...
Mas a escrita corrida dá pausa em minha vida
E de repente me vejo fazendo versos
Como se todo mundo que fizesse versos
fosse poeta,
e não proseadoras e contadoras de histórias
ou repórteres de jornal hibernantes,
como eu...
E pintou um clima...
Uma enorme vontade de fazer um poema.
E sai escrevendo, sem eira, nem beira,
sem pressa, sem motivo,
sem rimas ou métrica.
Preferia prosa, uma bela crônica, talvez
sairam versos.
Deu vontade de fazer um poema.
E eu, teimosamente, fiz.

21.4.2002

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Vista de Longe

Fatima Dannemann

Na televisão
não interessa
se não há buraco na rua
No telescópio
alguem repara
as crateras da lua